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Equiparação a Bolseiro

A proposta de um recente  Despacho Normativo que aprova o Regulamento  de Equiparação a Bolseiro merece a aprovação, na generalidade,  do Sindicato dos Professores da Região Açores, como sublinha um parecer da Direcção sindical, emitido em finais de Outubro. Na especialidade, o SPRA deixa algumas propostas em dois dos artigos.

Artigo 2º
Acrescentar um ponto mencionando que o número de vagas a conceder na contingentação anual possa transitar de um ciclo para outro caso, por algum motivo, fiquem por atribuir.

Artigo 20º
Consideramos que o poder discricionário põe em causa princípios da igualdade de acesso entre candidatos e contraria a excessiva restrição da contingentação anual. Propomos, por isso, a supressão do artigo 20º e a integração de um novo ponto no artigo 2º que possibilite, excepcionalmente, o alargamento da contingentação consoante o mérito dos estudos ou projectos apresentados, em domínio relevante da educação e ensino, e de seu interesse para a Região.

Comunicado de Imprensa

A Direcção do Sindicato dos Professores da Região Açores, atenta às recentes declarações do Sr. Secretário Regional de Educação e Ciência, relativamente à abertura do ano lectivo 2005/2006, considera que só por desconhecimento da realidade ou por vontade deliberada de desinformar a sociedade e confundir a opinião pública se pode dizer que o início deste ano escolar decorre num clima de absoluta serenidade e normalidade.
O SPRA considera que esta normalidade só pode ser entendida no plano meramente administrativo, porque não há memória de tão elevada intranquilidade humana, indignação e revolta como a que se vive, hoje, no seio do corpo docente, fruto da desconsideração e da marginalização a que estão a ser votados os professores e educadores ao nível da construção do ?edifício? legislativo que suporta e regulamenta o exercício da sua profissão.

Não é justo, nem correcto dizer-se que os professores tiveram conhecimento e muito menos oportunidade de participação na construção do tão polémico quanto indesejado Despacho Normativo nº 48/2005 de 11 de Agosto, que regulamenta não apenas a componente não lectiva, mas também, e de forma isolada do contexto nacional, a componente lectiva, com todas as consequências que daí advêm para a degradação da qualidade da educação e do ensino.

A afirmação do Sr. Secretário Regional da Educação e Ciência ao referir que percorreu todas as escolas da Região, reunindo três vezes com os Conselhos Executivos, não é condição suficiente para que se concretize o tão desejado diálogo democrático, porque, na essência, estas reuniões tiveram como única finalidade impor normativos, construídos de forma solitária, sem a participação dos docentes e à margem de qualquer processo negocial com os Sindicatos.
Apesar dos esforços do Sr. Secretário para aniquilar a acção do SPRA, estrutura sindical mais representativa dos docentes na Região, não conseguirá inviabilizar a mobilização do descontentamento que reina entre os docentes, nem neutralizar o nosso trabalho que visará, no imediato:

  • Apresentar uma Petição à Assembleia Legislativa Regional dos Açores, com o propósito de anular o referido Despacho;
  • Realizar um Abaixo?Assinado a entregar ao Excelentíssimo Presidente do Governo Regional dos Açores e Secretário da Tutela;
  • Convocar Plenários Sindicais para análise e debate da negra conjuntura político-sindical em que vivemos.

A motivação, o entusiasmo e dedicação essenciais ao bom desempenho dos profissionais de educação e ensino vão-se desvanecendo, consequência de acções concertadas nos planos nacional e regional, que visam denegrir a profissionalidade docente, subvertendo aspectos essenciais do conteúdo funcional da profissão, e atentando contra os seus legítimos direitos, nomeadamente:

  • Aumento real do horário de trabalho dos docentes sem condições efectivas para o seu desempenho;
  • Fim das reduções da componente lectiva para o exercício de cargos de natureza pedagógica;
  • Congelamento da progressão na carreira até 31 de Dezembro de 2006;
  • Roubo do tempo de serviço prestado entre 30/08/2005 e 31/12/2006;
  • Aumento da idade mínima de aposentação para os 65 anos;
  • Extinção gradual do regime de monodocência;
  • Redução de 35% do salário em situação de doença, sendo que os três primeiros dias são de perda total;
  • Desvalorização e marginalização dos docentes no processo de construção de uma escola que se pretende democrática.

O SPRA e os docentes desta Região estão preocupados com o facto de o Governo Regional só ao fim de nove anos, com o mesmo titular na pasta da Educação, considerar que a redução do insucesso escolar é agora ?a grande aposta do governo?. Então nesta última década quais foram as outras grandes apostas? Será que em algum momento da vida escolar se pode abdicar ou colocar em segundo plano o sucesso dos alunos?
Sabemos que as infraestruturas e a obstinação pelo acto de legislar absorveram, por completo, as atenções do Sr. Secretário Regional da Educação e Ciência. É normal que se deixe para último lugar as áreas para as quais temos menos aptidão ou sensibilidade. Porém, não é normal que face à desatenção da tutela, relativamente ao sucesso escolar dos alunos, se pretenda agora recuperar, a qualquer preço o tempo perdido, procurando-se forçar resultados que não correspondem à realidade, mediante uma pressão incompreensível que se está a forjar sobre os professores e educadores.
A comprová-lo está o facto de o Sr. Secretário ter dado instruções para que se verifiquem ?todas as actas dos conselhos de turma com mais de cinco por cento de retenções?. Subentende-se, assim, que numa turma onde há vinte e cinco alunos, se houver mais do que uma retenção o Sr. Secretário considera que há motivo para pôr em causa a acção pedagógica, ou qualquer outra.
Estamos, de facto, no campo do surrealismo. Tudo faremos para acompanhar a evolução deste processo, porque não vamos permitir que se submeta a critérios meramente estatísticos os fins nobres da educação.
Os professores não se deixarão intimidar por pretensos actos de julgamento, nem aceitarão que os culpabilizem por desatenções e inoperâncias que não são da sua responsabilidade.

Angra do Heroísmo, 17 de Setembro de 2005
A Direcção

20 Razões da Greve de 18 Novembro 2005

A informação encontra-se no ficheiro em anexo.

Resolução aprovada por unanimidade junto ao ME

PROFESSORES EXIGEM RESPEITO E RESOLUÇÃO DOS PROBLEMAS!

Os professores e educadores portugueses têm sido alvo de um fortíssimo ataque que se reflecte na perda ou diminuição de direitos inscritos no seu estatuto de carreira, na descaracterização de aspectos essenciais do seu perfil profissional e na sua desvalorização social.

Os professores e educadores presentes hoje em Lisboa, na Manifestação Nacional convocada pelas suas organizações sindicais, rejeitam o descrédito público que o Governo vem lançando sobre o exercício da função docente que põe em causa um bom exercício da actividade dos Professores e Educadores, bem como o factor educativo dentro das escolas.
No que respeita a problemas concretos que urge serem solucionados de forma a serem respeitados os seus direitos, bem como o interesse das escolas, os professores e educadores exigem:

1. Que todas as matérias relativas à carreira docente, concursos e colocação de docentes, bem como condições de trabalho sejam submetidas a efectivos processos negociais a desenvolver no âmbito do disposto na Lei 23/98, de 26 de Maio, e dos artigos 4.º e 9.º do Decreto-Lei 1/98, de 2 de Janeiro;

2. A revisão e clarificação dos aspectos negativos dos Despachos 16795/2005 e 17387/2005 e já identificados pelas organizações sindicais, relativamente aos quais apresentaram propostas concretas;

3. A garantia expressa de que não competirá aos professores do 1.º ciclo e educadores de infância permanecer ou desenvolver as actividades no âmbito dos designados “prolongamentos de horário”;

4.O respeito pela componente não lectiva dos docentes de Educação Especial nos termos em que a legislação específica a define;

5. A garantia de que aos docentes dispensados de componente lectiva por razões de doença não serão atribuídas actividades de substituição ou outras a desenvolver em contexto grupo/turma, nem mesmo por necessidades residuais;

6. O respeito pelo disposto na legislação em vigor relativamente às substituições de professores em falta, nomeadamente o aviso prévio da necessidade, o carácter facultativo da actividade e a consideração do serviço docente extraordinário;

7. O pagamento das deslocações efectuadas em serviço a desenvolver em regime de itinerância devendo este ser de carácter facultativo;

8. A adequação do regime de faltas dos professores às novas realidades, designadamente ao registo de horas da componente não lectiva e ao trabalho em blocos de 90 minutos, embora em tempos de 45;

9. A contagem integral de todo o tempo de serviço docente ou equiparado para efeitos de carreira;

10. A aprovação de um regime de aposentação de professores que tenha em conta o elevado desgaste físico e psíquico causado pelo exercício continuado da profissão docente, o que é incompatível com a exigência dos 65 anos de idade;

11. A aprovação de um regime de concursos e colocação de professores e educadores que promova a efectiva estabilidade, sendo recusados quaisquer mecanismos que impossibilitem a apresentação anual a concurso, eliminem os destacamentos para aproximação à residência familiar ou façam depender a renovação de contratos do aval expresso das escolas.

Este é o conjunto de reivindicações apresentadas ao Ministério da Educação e ao Governo neste dia nacional de luta dos professores e educadores portugueses, cuja satisfação não foi prevista no Protocolo de Acordo apresentado às organizações sindicais ao longo da semana.
A não serem dados passos no sentido da satisfação destas exigências, os professores e educadores presentes manifestam desde já a sua disponibilidade para continuarem a sua acção e luta por uma profissão respeitada e dignificada, em defesa da escola pública e por um ensino da mais elevada qualidade.

 Lisboa, 18 de Novembro de 2005

O desmantelamento da Administração Pública atinge os Professores

Os professores não ficarão imunes à Reforma da Administração Pública.  A filosofia e os princípios que norteiam o Governo para as pretensas reformas que deseja implementar neste domínio são os mesmos para as carreiras especiais da Função Pública.
A coberto do slogan ?menos Estado e melhor Estado? e do obcecado propósito da redução do défice público e do cumprimento do pacto de estabilidade orçamental, os funcionários públicos, sob acusação de incompetência, esbanjamento de dinheiros públicos e mau serviço à Nação, foram obrigados a sentar-se no ?banco dos réus? e sem direito a defesa, uma vez que o Governo afirmou não estar disposto a ouvir ou aceitar as propostas das organizações sindicais que contrariassem a filosofia da dita ?Reforma?.
A obediência cega transformou-se em palavra de ordem. O direito ao diálogo, à negociação, à concertação, à informação e participação dos parceiros sociais  e, por que não, à indignação dos que se opõem à ?febre? das privatizações dos serviços e funções públicas, da precaridade do trabalho com a vulgarização dos contratos individuais, da aplicação do Código de Trabalho a toda a Administração Pública, dos despedimentos colectivos e sem justa causa, das mobilizações forçadas dos trabalhadores, das reformas adiadas e dos vencimentos limitados por modelos de avaliação prepotentes que, em nome da economia, da eficiência e da eficácia, introduzem mecanismos de coacção inaceitáveis, são agora direitos recusados.
Que bela democracia esta! Transformou-se na democracia do ?faz de conta?, porque a Constituição da República Portuguesa ainda obriga ao cumprimento de algumas formalidades legais, já que o verdadeiro espírito democrático que deve presidir à tomada de decisões foi ?chão que deu uvas?, como diz o povo.
Nesta cruzada contra a Função Pública onde, numa perspectiva economicista , se enaltece ?tudo? o que é privado e se deprecia ?tudo? quanto é público, tendo por base critérios de rentabilização  económica, há que lembrar que muitos destes ganhos de eficiência da dinâmica privada se fazem, em muitos casos, não pela melhor gestão ou modernização tecnológica das empresas, mas à custa do cerceamento constante dos direitos de quem trabalha e que na Função Pública estão salvaguardados pelo Código de Procedimento Administrativo e demais legislação laboral.
Estou certo que esta ilusão de ganho à custa da degradação social obrigará, mais cedo ou mais tarde, o Estado a pagar uma factura, de preço bem mais elevado, que ninguém pretenderá assumir.
Como professor e sindicalista, é meu dever alertar todos os docentes para os reflexos que esta Reforma da Administração Pública terá ao nível da classe docente, tendo por base a fundamentação que o Governo sustenta no relatório do Orçamento de Estado para 2004, no sentido de justificar, perante a opinião pública, um conjunto de medidas altamente penalizadoras que se encontram em fase de preparação legislativa, em diplomas, alguns dos quais já na ?gaveta? aguardando ordem de publicação, sobre a Revisão do Estatuto da Carreira Docente, a Gestão e a Avaliação, que vão pôr em causa direitos que levaram um quarto de século a conquistar.
A agressividade desta política emerge da constatação  de que ?Portugal tem uma despesa em educação, em percentagem do PIB, superior à média europeia e uma eficiência do sistema educativo inferior a essa média.? Se é verdade que esta argumentação pode parecer lógica aos olhos de alguns, ela não colhe junto dos professores, por considerarem-na pouco sensata, uma vez que o desenvolvimento sócio-económico da sociedade portuguesa não é comparável às demais sociedades europeias . O nível de vida, de conforto e bem estar dos Espanhóis, Franceses e Ingleses e, consequentemente, das suas crianças está muito distante do ambiente sócio-familiar de muitas das crianças portuguesas que na escola revelam todos os dias as fragilidades de quem luta pela sobrevivência, de quem convive com as mais elevadas taxas de analfabetismo e alcoolismo da Europa, de quem sente que está no país mais pobre da Comunidade Europeia, onde as assimetrias sociais são cada vez mais evidentes.
Os governantes portugueses esquecem-se de que o que estão a investir agora, já foi investido há longo tempo pelos outros países e que os resultados obtidos por eles no presente são consequência das sementes que germinaram há muito. Não há que ter ilusões, porque a escola que temos é o produto da sociedade em que vivemos. É tão injusto quanto utópico exigir dos professores a construção de uma escola de excelência e de elevado sucesso, quando a sociedade está longe de o ser.
As mudanças fazem-se mobilizando sinergias e não promovendo afrontas com o aumento das exigências e a redução das regalias. Não podemos aceitar passivamente o duplo castigo físico e psicológico que o Governo se prepara para aplicar aos docentes obrigando-os a leccionar ?de bengala?, à disputa e à conflitualidade entre colegas pela obtenção das quotas que darão direito à progressão na carreira, a sentir a instabilidade e a insegurança decorrente dos contratos individuais de trabalho, a sujeitar-se a uma gestão unipessoal e autoritária, a experimentar a angústia da mobilidade forçada e o desespero em alcançar resultados que não dependem exclusiva e directamente do esforço e do trabalho do professor.
Os professores não merecem ser culpabilizados pelo insucesso dos idealismos que têm caracterizado as sucessivas Reformas. O nosso descontentamento tem de fazer-se ouvir enquanto é tempo, sob pena de o nosso silêncio ser transformado em cumplicidade.

Armando Dutra
Dirigente do SPRA

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