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Aulas de português proibidas em liceu suiço

O director de uma escola suíça está a impedir, desde Janeiro, cerca de 100 alunos portugueses de frequentar as aulas de língua portuguesa, atitude que pais, alunos e professora consideram “xenófoba” e “discriminatória”.

Na escola de St. Gallen, próximo de Zurique, 95 alunos portugueses frequentavam, até 27 de Janeiro, as aulas de língua e cultura portuguesa em horário extra-curricular.

O curso de português, do segundo ao décimo ano, é ministrado por uma professora portuguesa paga pelo Ministério da Educação de Portugal. A professora Teresa Soares contou à Agência Lusa que durante um ano recebeu várias cartas e “e-mails” do director da escola, queixando-se que não deixava a “sala limpa”, o quadro “estava mal apagado” e que “desapareciam coisas”.

“O director da escola dizia ainda que eu não sabia tomar conta dos alunos”, disse Teresa Soares, adiantando que informou a Embaixada de Portugal em Berna sobre o que se estava passar.

“Depois de ter tentado falar várias vezes com o director da escola e este recusar, resolvi marcar uma reunião na direcção escolar com o director”, disse a professora, que há 25 anos dá aulas de português no estrangeiro.

Nesse encontro, que se realizou em Dezembro, o director reiterou as acusações e manifestou-se surpreendido com o elevado número de alunos de português.

Teresa Soares sublinhou que, na altura, propôs à direcção escolar a divisão dos alunos por várias escolas para “não sobrecarregar” o mesmo estabelecime nto de ensino.

Apesar da proposta e da reunião, as queixas continuaram e no dia 04 de Janeiro o director escreveu à professora, informando-a que a 27 de Janeiro teria que entregar as chaves da escola e que estava impedida de leccionar.

“Contactei a coordenadora do ensino do português na Suíça que disse que estava a resolver a situação”, disse.

“A 27 de Janeiro fui dar a aula normalmente e apareceu na sala o director a dizer que tinha que me ir embora e para entregar as chaves”, afirmou, acrescentando que desde esse dia os 95 alunos nunca mais tiveram aulas de português.

De acordo com a professora, a embaixada está a acompanhar a situação, apesar de ter “tomado uma atitude fraca em relação às autoridades suíças”.

Entretanto, a professora, a pedido da embaixada, está a tentar encontrar salas em St. Gallen para continuar com as aulas de português e arranjou um advogado para a orientar.

“Segundo a legislação suíça, o director da escola não podia expulsar os alunos portugueses da escola”, disse, salientando que se trata de actos “discriminatórios, xenófobos e arrogantes”.

José Estêvão, que tem uma filha de sete anos a frequentar o segundo ano do curso de português, também classifica esta atitude de “xenófoba”.

O português disse à Agência Lusa que os pais foram informados pela embaixada, através de uma carta enviada pela professora, que não haveria aulas até que fosse encontrada uma sala.

“A única explicação dada é que a escola não quer lá aquela professora”, afirmou, adiantando que pais e alunos gostam de Teresa Soares.

“Nós queremos a mesma professora até ao fim do ano”, disse, lamentando a situação.

Clara Valverde, estudante do 9º ano, disse à Agência Lusa que ficou “admirada com a expulsão” e realçou que a sua classe “é bem comportada” e que não conhece “alunos portugueses mal comportados”.

“Eu gosto muito de ir à escola e de aprender português”, disse a jovem, que nasceu na Suíça, mas tem nacionalidade portuguesa, sublinhando que a profes sora “ensinava bem”.

Segundo Clara Valverde, esta não é a primeira vez que alunos portuguese s são discriminados na Suíça, pois muitos filhos de emigrantes são colocados em classes especiais para estrangeiros.

“Já tive problemas na escola por ser filha de portugueses. Tinha notas suficientes e não me deixaram entrar na escola secundária”, lamentou.

Contactada pela Agência Lusa, fonte da escola disse que “houve distúrbios graves provocados pelos alunos portugueses porque não eram vigiados nem acompanhadas pela professora”.

“Durante um ano escrevemos cartas para a embaixada de Portugal a descrever e a alertar para a situação, mas não obtivemos resposta”, adiantou.

A fonte desmentiu tratar-se de um acto xenófobo, uma vez que a escola é frequentada por árabes, croatas, italianos e sérvios.

“Aconteceu não por serem portugueses, mas por falta de acompanhamento e autoridade”, salientou.

A Agência Lusa solicitou à Embaixada de Portugal em Berna um esclarecimento sobre a situação, mas ninguém se mostrou disponível para comentar o assunto.

Lusa, 24/02/2007

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