Sócrates rima com cortes. Fechou mais de dois milhares de escolas. Congelou salários, despediu professores, abandonou metade das crianças deficientes, promoveu a indisciplina e o facilitismo, afogou-nos em papéis e burocracia, recuperou o medo, desprezou a lei. E no fim foi ao Parlamento cantar vitória. Onde o Procurador viu indisciplina preocupante, o governo leu tranquilidade e normalidade. Quando o Provedor denunciou atropelos, o governo passou de fininho e foi em frente. Quando nos tribunais o Ministério da Educação foi condenado, os mandantes prosseguiram incólumes e sem sanções, nem politicas, sequer.
As escolas continuam genericamente inóspitas, frias, desconfortáveis, sem recursos, sem dinheiro. A destituição do poder dos professores sofre agora novo assalto, com a alteração do modelo de gestão das escolas, que trará ao apogeu a divisão da classe. Menos pão, menos saber e cada vez mais circo, é o mote. Já tivemos o concurso do melhor professor, com gala no fim. Começa agora a série dos manuais escolares, a 10 mil euros por título. Bingo! Quando os papalvos que suportam o cortejo acordarem, já os figurantes estarão divididos pelos gabinetes da ?Europa mais forte? ou sentados nas cadeiras dos conselhos de administração, que os esperam. E os professores que aguentarem terão pela frente o trabalho de recolher os cacos.
Quando o dinheiro é o primado, importa olhar, ainda que meteoricamente, para o que se retira do Orçamento Geral do Estado para 2008. Estão aí fixados 2,1 por cento para aumentar os funcionários públicos, face a uma inflação esperada, que todas as previsões oficiais (nossas e da Europa) aceitam ser superior. Este número, para além de parco, deve ser cruzado com duas realidades indesmentíveis: desde 2000, os funcionários públicos perderam, pelo menos, 10 por cento do seu poder de compra; por outro lado, o valor previsto para ?remunerações certas e permanentes? volta a descer relativamente a 2007 (a descida da governação de Sócrates ronda os 500 milhões de euros). Significa isto, obviamente, que os despedimentos, as reformas impostas e as mobilidades especiais baterão à porta de muitos. E, ao lado, que podemos ver? Que estão inscritos 1200 milhões de euros para pagar aquisições de pareceres, estudos e projectos, em regime de ?outsorcing?. E ?the last but not the least?, sabem o que acontece às verbas previstas para a defesa? Crescem 8,5 por cento! E note-se que, enquanto na OCDE a média desses gastos representa 1,7 por cento da riqueza produzida, em Portugal significa … 2,3 por cento dessa riqueza. Sinais dos tempos, marcas de despudor.
Seria cínico se vos desejasse o que não vão ter: bom ano 2008! As contas só podem ser acertadas em 2009. O meu voto é o de Henri Turot: resiste muito, obedece pouco!
Crónica de Santana Castilho na E-Escola Informação