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Discurso Área Sindical de Santa Maria

Área sindical de Santa Maria

Caros Colegas

A colega Inês incumbiu-me de fazer um pequeno historial do movimento Sindical em Santa Maria.
Creio ela ter batido a esta porta, por uma razão muito simples: já estou fora da minha actividade profissional vai para 7 anos ; encontro-me aposentado, embora picassem as sequelas e as boas recordações.
Como todos sabem, antes do 25 de Abril de 1974, não havia Sindicatos, parecia tudo bem na vida docente em relação ao chamado já passado Ensino Primário, hoje 1º Ciclo , Ensino básico. 
A nossa profissão era assim vista como um sacerdócio, aliás havia um livro de Legislação com deveres e direitos do Professor, que anotava a afirmação ? Professor Sacerdote não sei se católico se das Novas de Alegria.
Nalguns países da Europa, mais evoluídos, a classe docente,  já reivindicava com  ?unhas  e dentes?  os seus direitos. Aí a democracia já incorcava  a sua presença felizmente.
Devo ser sincero sou do tempo em que foi feito um abaixo-assinado pelos professores de Santa Maria ao então Ministro da  Educação Veiga de Simão, antes do 25 de Abril, no tempo de Salazar; não fomos tão passivos como se pensa.
Peço aqui desculpa de ter de frisar um caso que me parece digno de registo.
Felizmente a ilha de Gonçalo Velho  tem um aeroporto, que a Geografia da ilha do Sol , fê-lo um dos melhores da Europa.
Em tempos passados, os funcionários do aeroporto beneficiavam dum subsídio de residência, chamado o terço, pelo facto da vida por cá ser mais cara e difícil.
Ora, pela lógica os professores também se achavam no direito de usufruir da mesma regalia e por conseguinte através de um abaixo- assinado, reivindicaram o mesmo  subsídio que beneficiavam os funcionários da Aeronáutica Civil, isto é, um quantitativo que equivalia a 30% a mais em cima do vencimento, o que foi conseguido.
Consideramos nós professores, na altura uma enorme vitória.
Vem o vitorioso 25 de Abril e aí as coisas começam a ferver , muda-se uma página na história de Portugal.
Reivindicações em cima de reivindicações, a mentalidade de classe atinge o rubro, passando pelo nível Beta,  período tenso, conturbado e emotivo, em que se pedia o Sol e a lua, até que as coisas foram acalmando e entraríamos numa fase a que denominará de nível Alfa,  era o tempo de arrumar a casa, com calma e serenidade .
E assim sendo, iniciamos uma nova caminhada por estradas e enveredamos por exigências mais racionais e conscientes, embora com avanços e recuos, tendo em conta que o país – Portugal, não tinha só, a classe dos professores de tanga.
No caso de Santa Maria, o Sindicato começou a arranhar  por volta de 1975, os ventos de Leste e Oeste começaram a arejar por estas bandas.
As Escolas começaram a reunir-se, elegendo os seus Delegados Sindicais, para a nível concelhio apresentando sugestões, petições e reivindicações para benefício da classe.
Mas só em 2 de Outubro de 1978 foram registados os Estatutos do Sindicato dos Professores da Região Açores, com o nº1, a folha1  do livro nº1, nos termos do artº10º do Decreto ?Lei nº215-B/75 de 30 e Abril e alínea d) do artº1º do Decreto ?Lei nº243/78 de 19 de Agosto com publicação no Jornal Oficial ,II série nº38, de 2 de Novembro de 1978.
E a partir daqui os professores foram trilhando de degrau em degrau uma caminhada que ainda não está terminada tendo atingindo regalias , um salário já razoável e condições de trabalho bastante satisfatórias comparadas com o antigamente.
Têm entretanto muitos Professores uma vida difícil, porque andam quase sempre com a casa às costas e outros nem trabalho têm.
Tenho aqui o registo dos primeiros professores sindicalizados , sendo o nº1 em Santa Maria , a colega Alda Maria Teixeira da Rosa.
A vida dos professores é desgastante física e psicologicamente, não pode ser olhada como uma profissão qualquer, ela envolve duas vertentes muito complexas da vida- Educação e Cultura, que fazem do cidadão aquilo que ele é.
Há dias um médico dizia-me :com que idade se reformou? Com 55 anos disse-lhe.
Ah, diz ele se o meu Estatuto fosse igual ao teu estava perto da reforma.
Doutor, pergunto-lhe: quantos utentes consulta de cada vez? Diz o médico , um.
Acrescentei- um número indeterminado de meus colegas de trabalho e eu próprio chegamos a ter durante 5 e mais horas diárias , cerca de 40 utentes, em tempos passados, simultaneamente.
E é assim a nossa vida tanto ontem como hoje é uma das profissões mais nobres e com muitas dificuldades mas foi esta que escolhemos.
Termino fazendo votos de muita vida aos sindicatos e seus sócios, para que possam defender a classe a que pertencem e a bem dos alunos que lhe são confiados.

Saudações Sindicais e obrigado.

Jaime Figueiredo
Vila do Porto, Sta Maria
16/10/2003

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